terça-feira, 27 de julho de 2010

Quando eu era pequena o meu avô levava-me a passear nestas noites quentes de Verão. Íamos ao cais molhar os pés, bebíamos uma laranjina C na colectividade, andávamos naquele passo lento e demorado, dizia-se boa noite às pessoas sentadas à porta de casa e conversávamos, nem sei bem do quê, mas sei que falávamos muito. Deve ser por isso que eu gosto destas noites quentes, deve ser por isso que me emocionei às lágrimas quando estive em Veneza. Era o cheiro do rio da minha infância, das memórias doces do meu Alfredo; dos ovos mexidos em azeite, dos refrescos de café, dos longos passeios de bicicleta, das tardes passadas na oficina, a ouvir discos e ler revistas e brincar com ferramentas, de ir comprar melão e saber de certeza que ia ser bom, das 2 ou 3 colherzinhas de café que partilhava comigo.

Em 8 anos nunca senti tanto a falta dele, nunca lamentei tanto a sua ausência. Porque eu queria mesmo que ele ainda cá estivesse. Porque ele merecia esta felicidade.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Há vida no silêncio,
na profunda escuridão,
na pequena dor, que nem sequer é dor.
no sacrifício, que nem chega a sê-lo.

A vida resumida ao objecto,
a esperança da não morte...
A saudade do futuro,
à espera da Primavera.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

filosofias

(também não gosto das avarias que andei a fazer ao blog.)

Das minhas aulas de filosofia do 10º ano retive algumas frases:

"o hábito é uma segunda natureza", salvo erro, atribuída a Aristóteles e,
"lembra-te, oh Júpiter, que és homem, e como homem escolhes o teu próprio caminho", de Jean-Paul Sartre.

Estas duas frases, particularmente juntas, fazem-me sentido. Por um lado, na dúvida entre o hábito e a verdade, acredito que exista sempre verdade no hábito, ainda que seja diferente de quando era apenas a verdade.

De qualquer forma, quando já não nos identificamos com a natureza, ou queremos mudar a natureza, podemos lembrar-nos que... "somos homens, e como homens escolhemos o nosso próprio caminho!"