sábado, 13 de agosto de 2011

Igreja e Baptizados

A minha amiga S. convidou-me para ser madrinha de baptismo do filho e eu, pela estima e o amor que lhe tenho, pelos mais de 20 anos de amizade, aceitei e senti-me muito feliz por essa honra. Ainda que não seja católica praticante (pelo menos como a Igreja o entende) conheço as responsabilidades dos padrinhos - a de auxiliarem os pais no caminho/educação da fé cristã - e depois de pensar achei que sim, que podia comprometer-me, que podia aceitar este compromisso. Sou uma pessoa de fé - fé nos Homens e na vida, fé no Cristo do amor ao próximo, de fazer o bem (ou pelo menos não fazer o mal) e gosto de acreditar que existe um Deus, um Deus que nos conforta, que nos escuta nos diálogos internos, uma espécie de amigo-imaginário ou um estado puro da nossa consciência, que conhece sempre o caminho da verdade e do bem. Pode ser uma visão básica e simplista mas é assim que eu vivo a religião e basta-me. E achei que eram valores suficientes para aceitar esta função. Mas não! A Igreja só atribui o estatuto de Padrinhos a quem tenha os três sacramentos: baptismo, crisma e eucaristia. E há mais: se a pessoa é casada deverá ser pela igreja, caso contrário, leva o rótulo de "testemunha". Eu fico triste, sobretudo porque esta é uma medida arbitrária, que é cumprida ou não, consoante a paróquia, e para além disso, com que fundamento a instituição se sobrepõe à escolha das pessoas, neste caso os pais?

Se eu fosse pessoa de Igreja, como a senhora que me atendeu me disse, saberia que uma Madrinha tem o dever de zelar se o afilhado vai à catequese, se vai à missa, se faz o crisma... e claro que só pode exercer esse papel, quem também o faz. Pronto, e aqui o caldo entorna-se - primeiro porque baptismos, catequeses e afins são decisões dos pais e ponto final, depois porque no meu entender a fé cristã não se resume às missas. Mas pronto, cada clube tem as suas regras e é por isso que eu não me identifico com a instituição e por quem a segue de forma acéfala.

E lá serei eu: testemunha (da também hipocrisia da Igreja).


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Actualização dos 4 meses

Hoje foi dia de pediatra. Contava-me a minha madrinha que a sogra dela ficava muito escandalizada quando ela levava os filhos ao médico (há 40 anos atrás) sem estarem doentes. Dizia que nunca se tinha visto uma coisa daquelas e que eram modernices. Pois não há nada melhor que estas consultas, em que o nosso menino é visto de alto a baixo, é auscultado e testado, pesado e medido e o veredicto é: está óptimo!

O piruças está a medir 63 cm, a pesar 6,840kg. Ri, vocaliza e comunica, já descobriu os pés e com ajuda já se senta e quer pôr-se de pé. Chama por nós quando fica sozinho, pára de chorar quando me vê a pôr o pano porta-bebés, baba-se como um São Bernardo, começa agora a agarrar objectos e passa a vida com as mãos na boca. Dorme a noite toda, das 20.30 às 8.00, com 2 ou 3 paragens para abastecer. De dia vai dormitando mas nunca mais de 30 minutos de cada vez, ou não vá perder alguma coisa interessante. É um miúdo bem disposto, sorridente e curioso, com um olhar sempre atento. Para mim o puto é lindo mas é o brilho dos olhos dele que lhe dá graça.

Então a pediatra diz que o aleitamento exclusivo será para manter até 2 semanas antes do regresso ao trabalho, com a adição de 3 colheres de maçã reineta, a ver se ajuda a resolver a pseudo-obstipação do lactente. Mantém suplemento de vitamina D e C e inicia flúor aos 6 meses. E pronto, é impossível não me sentir, em primeiro lugar uma felizarda, porque assistir ao desenvolvimento expectável e saudável do miúdo, infelizmente não é para todos e, depois, um sentimento de orgulho de estar a dar conta do recado.

Vai daí e comecei hoje a fazer o stock da leitaria, a ver se o rapaz se aguenta sem leite artificial, pelo menos até fazer 1 ano. Esta é a minha meta, depois logo se vê. Mas falar das mamocas é para outro post.

sábado, 9 de julho de 2011

Saturday night...

Sábado à noite e eu aqui, sozinha, a velar o sono da cria. Vai ser assim nos próximos fins-de-semana deste e do próximo mês.

... Não é queixume! Eu sabia que a vida ia ser diferente e que por mais que exista partilha iria ficar sempre com a maior fatia, pelo menos durante o primeiro ano. Por mais que queiramos a igualdade, há razões fisiológicas que não conseguimos contornar, ou pelo menos, sem prejuízo. Quando estamos os dois é mais fácil e nem se pensa nisso. Assim, sobra espaço para reflectir nesta condição de ser mulher. E ser mulher é uma pastilha agri-doce. Não é que zelar e cuidar do meu filho não seja suficientemente importante ou mais importante do que qualquer outra coisa mas é o saber que neste momento os papéis não podem ser invertidos que mexe com o meu sentido de igualdade entre os sexos. Invariavelmente a mulher acaba por ser sempre a mais sobrecarregada, a mais dividida, a mais exposta a escolhas, que conduzem sempre a um dos sacos vazios, recorrendo à tal máxima que dois proveitos não cabem num saco estreito.

Continuo a dizer que não é queixume, estou aqui alegremente sem que o saber que há vida lá fora me belisque, sem que o convite declinado para o alive me faça lamentar por aí além mas é este trinómio de mãe, esposa e dona-de-casa, a que só as mulheres respondem no conceito que representa, que me deprime.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Férias a 3

Os meus homens ainda dormem, um corpo grande e outro pequenino, lado a lado, num abandono perfeito ao sono e é inevitável não me comover.

As férias acabam-se hoje, 2 semanas a banhos em terras algarvias e eu sinto-me ligeiramente nostálgica. Fico sempre assim nos regressos porque, como diz o outro, sou quase sempre muito feliz nos lugares. Os dias aqui ganharam horas, o meu miúdo desenvolveu-se mais nestes 15 dias do que um mês em casa. E sabe bem ter tido este tempo para nós, só para nós! - as nossas primeiras férias em família! Claro que com um bebé de 3 meses o conceito férias torna-se diferente daquilo que nos habituámos, de qualquer forma foi muito tranquilo, muito cool.

De manhã esplanada, que logo percebemos que praia antes das 9h da matina não era para nós. Durante o período de maior calor ficávamos por casa e depois das 17H lá íamos a banhos - um banho rápido, claro está, que era preciso secar o biquíni para o menino não se molhar durante o lanche. Ao menos as férias permitiram para acabar de uma vez por todas com eventuais pudores que ainda persistiam. Dei mama em todo o lado e em total descontracção. Depois no regresso ainda havia tempo para uma jola e amendoins. À noite saíamos para jantar ou para café com o "belo adormecido" que nunca acordou nestas andanças e era como se fossemos outra vez um casal sem apêndices. (creio que a tendência será para piorar mas foi bom aproveitar). A descrição pormenorizada serve-me para não me esquecer que foi fácil, e que, regra geral, é sempre fácil ou menos difícil, quando a gente quer que funcione.

O pior mesmo foram os comentários de uma certa 3ª idade, desde o "trazem os recém-nascidos para a praia" (o chapéu voou para cima do senhor é certo mas a culpa não era do meu recém-nascido de 3 meses com o ok da pediatra para ir à praia) ou "ai que horror, com este calor ir para a praia" (para ir com frio ia no Inverno) ou ainda "vire o menino de barriga para baixo" (os bebés choram, é lamentável mas é assim mesmo e o espaço público é de todos). As pessoas são regra geral parvas e omitem opiniões parvas e eu não estava habituada a esta intromissão em praça pública. Não respondi mas fiquei com pena!

Agora entrei em contagem decrescente - faltam 3 meses para regressar ao trabalho e eu, contrariamente ao que seria suposto, ainda não estou farta de estar em casa. Uma angústia pequenina começa a alojar-se, não tanto pela separação do rebento mas antes pelo receio de não ser capaz da gestão do tempo, de na ânsia de querer fazer tudo, não fazer nada de jeito e de me sentir a falhar nos diferentes papéis. Pode ser que seja "sempre fácil ou menos difícil", porque eu quero mesmo que funcione :)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Voltar...

Depois de tanto tempo ausente faz sentido retomar com este "rascunho" escrito poucos dias antes do "grande acontecimento":

"E este espaço ficou esquecido...tal qual a bisa que quando tinha muito para fazer se deitava, também eu, tinha tanto para dizer que me calei. Tenho pena, porque sei que mais tarde iria gostar de reler as impressões, de recordar este período. Mas o tempo é de silêncio, de concha fechada ao mundo, tentando absorver todas as mudanças, processá-las e arrumá-las para evitar colagens futuras. Meia de mim está suspensa, meia de mim está com medo de se perder neste novo papel e não voltar a encontrar-se. A outra metade está expectante e confiante que tudo se encaixará sem peso; que teremos a capacidade para receber e envolver este miúdo nas nossas vidas, de o amar e de o educar, sem nos esquecermos de nós próprios, enquanto indivíduos e enquanto casal.

Falta o menino para compor a "sagrada família" mas já é uma família antes do menino."

...

O André nasceu no dia 18 de Março, com 3,410kg e 49,5 cm. Depois de mais de 10 horas de sofrimento, um corpinho quente aterrava no meu peito. É de facto uma sensação única e um momento marcante para toda a vida. Foi apenas nesse preciso momento que tive a consciência que na minha barriga "morava" um bebé - o nosso bebé! E ficámos os dois numa espécie de ladainha, a chorar, a rir e a contemplar a nossa obra.

Já passaram 2 meses. É impressionante como se, por um lado o tempo parece voar, por outro existe a perfeita noção do tempo. Em 2 meses o meu miúdo que mal abria os olhos, já ri, já palra, já segue um objecto, está a descobrir as mãos e agita as perninhas quando está contente. É por isto que a parte de mim que achava que poderia perder-se neste novo papel, já percebeu que não é uma questão de perda, antes sim, de perspectiva. O trabalho pode ser estimulante, os amigos uma diversão, as viagens maravilhosas mas não há nada que supere o prazer de assistir, partilhar e acompanhar o crescimento da nossa cria - e quando assim é, não se sente peso. E é nesta contemplação diária, nas rotinas, no cuidar noite e dia, no toque, que o amor cresce. Um amor que é todo dentro, um amor que se sente como o bombear do coração: contrai muito e depois relaxa, inundando todos os poros. É esta espécie de dormência de felicidade que nos permite aguentar o choro, as noites mal dormidas, as máquinas de roupa quase diárias , a mama de fora a cada 3 horas e sobretudo que faz aumentar os níveis de tolerância e paciência.

Está a ser tãooo bom! :)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

21 semanas de ti...


Dizia Van Gogh que "o que for feito com amor estará bem feito"... e eu acredito que sim!
E andamos felizes, serenos e sem medos. Se me sinto especial? Não, sinto-me antes muito natural. Dizem-me frequentemente que não sou uma grávida como as outras e eu fico a achar que sou uma ave rara. Mas de facto a gravidez não me subiu à cabeça e não me sinto propriamente personagem de um conto de fadas. É antes como se conhecesse o caminho, como se o meu corpo estivesse estado à espera deste momento e soubesse exactamente o que fazer e a razão aceitasse simplesmente o prodígio da natureza... É natural e fisiológico... Cá para mim, o amor nasce das entranhas...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Férias...

Estou oficialmente de férias!

E estou serena, tranquila, sem pressa, como se já conhecesse o caminho.
A estranheza a entranhar-se como guiada por uma memória ancestral e eu absorvo, aqui e ali, sem me preocupar com o todo.

O todo virá a seu tempo e teremos todo o tempo do mundo...